Gisele Montilha Pinheiro

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Currículo Lattes

Área de pesquisa

Anotação de corpus; Desvios da norma-padrão; Linguística de Corpus; Redações do ENEM; Revisão gramatical automática

Mestrado

Redações do ENEM: estudo dos desvios da norma padrão sob a perspectiva de corpos

Desvios da norma padrão, comumente chamados de "erros", são fatos comuns na escrita dos aprendizes da variante culta de uma língua materna como o português brasileiro. Tratados como um "mal a ser combatido", eles são, na verdade, importantes indícios do processo de assimilação da escrita culta pelo falante nativo. Revelam qual a tendência da transformação que naturalmente ocorre numa língua, demonstrando, por exemplo, a obsolência das gramáticas tradicionais, que não aceitam determinadas construções já muito freqüentes. Mas seria possível detectar algum padrão desses desvios? Haveria desvios típicos de um determinado perfil de redatores? Essas indagações motivaram a presente investigação, que se baseou na concepção de que esses estudos são de natureza empírica, comprometidos com a noção de que a língua funciona tal como um sistema probabilístico, de onde é possível prever tendências, por exemplo, de mudança. Falamos, pois, de uma investigação à luz da Lingüística de Corpus. Composto de redações do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), edição de 2002, cedidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) juntamente com determinados traços do perfil dos redatores, construímos um corpus que foi batizado de Corvo, e se ocupou de uma faixa específica de textos: a de pior desempenho no ENEM no quesito domínio da norma culta. Observamos, desse modo, textos em que, supostamente, há freqüência maior de desvios e maior variedade de tipos de desvios. Nossa metodologia de pesquisa apoiou-se no uso do revisor gramatical automático ReGra, bastante popular no país e que auxilia o usuário no uso correto do português culto padrão. Além disso, construímos um material próprio de detecção e classificação dos desvios gramaticais, aumentando a capacidade de tratamento automático dos textos. Assim, foi possível gerar uma versão do corpus anotada em desvios, i.e., os textos apresentam indicações de quando e qual tipo de desvios ocorrem. Como resultado temos um mapeamento do Corvo; ou seja, um panorama dos desvios típicos de um determinado tip o de perfil de redator. Constatamos a deficiência ortográfica como o traço típico do grupo de indivíduos investigado, mas, sobretudo, que a ortografia é motor para o pleno funcionamento de uma revisão gramatical automática. O revisor ReGra mostrou-se incapaz de processar satisfatoriamente textos desse tipo de redator, mas, ainda assim, comprovou que esses textos apresentam desvios gramaticais de tratamento complexo, cuja intervenção do revisor, se acontece, pouco altera na qualidade geral dos mesmos. Com respeito à tipologia de desvio, pudemos constatar a validade da tipologia aplicada na pesquisa, que advém do ReGra e, portanto, está à margem das discussões teóricas ortodoxas. De fato, há recorrência de tipos de desvios, e isso numa freqüência que nos autoriza admitir a fraca assimilação de certas regras gramaticais tomadas como básicas (p.ex., a pontuação, a concordância e a regência). Constatamos, com relação ao perfil de redatores, que textos com maior potencial para a revisão da escrita, i.e., aqueles que alteram significativamente a qualidade textual com interferências pontuais de revisão, são justamente os produzidos pelos concluintes do ensino médio e não pelos egressos.